8 or Higher: Porque nos afastamos após termos filhos

porque nos afastamos após termos filhos

Há muito tempo me sinto só. Não só de sozinha, mas só de não ter amigos da mesma idade, de não ter com quem conversar além da família, alguém "de fora" para bater papo sobre assuntos diferentes. Aqui moramos eu, meu companheiro, nossos dois lindos e maravilhosos filhos (um de 2 anos e 7 meses e outro de 3 meses), vovô, vovó e o tito (meu irmão, que invés de 'tio', foi apelidado de 'tito' pelo meu filho mais velho). É bastante gente na mesma casa, mas ainda me sinto isolada do mundo.

Conversar com outros adultos parece uma tarefa árdua quando se tem filhos - e não é pra menos, né? Eles demandam tanta atenção que fica difícil não olhar para eles (mesmo quando está falando no telefone sobre uma reunião de negócios super importante). Eles demandam toda a atenção que você pode ter em um dia, em um mês, em um ano. Aquela atenção que você antes conseguia dar aos amigos? Essa atenção não existe mais. Na verdade, até mesmo fazer tarefas simples se tornam cansativas por conta das inúmeras interrupções. O seu foco é seu filho. Ponto.





Vejo muitas pessoas reclamando que perderam os amigos após a maternidade/paternidade, e que isso as fez pensar que nunca foram amigos de verdade. Já eu vejo de outra forma. Fui eu que me afastei dessas pessoas que eu considerava amigas, muito provavelmente por elas não entenderem a complexidade que o "maternar" exige.

Uma de minhas séries favoritas se chama 'How I Met Your Mother', que conta a história de Ted, um romântico em busca do amor da vida dele e, consequentemente, a mulher que seria mãe de seus filhos. Durante a história, os melhores amigos de Ted engravidam e têm seu primeiro filho.



Em determinado episódio, logo após o nascimento do bebê, os novos pais criam uma regra: Os amigos só podem direcionar a palavra a eles quando o problema ou história a ser contada seja nota 8 ou mais ("8 or higher"), ou seja, qualquer assunto pouco importante não deve ser mencionado, afinal, eles estão muito cansados para ouvir. Quem já teve que cuidar de um bebê pequeno entende essa cena com a maior facilidade do mundo, não é mesmo?

Quando não temos filhos, sabemos que cuidar de crianças é cansativo, mas só a prática nos faz vivenciar a esgotante rotina da criação, a falta de tempo para realizar atividades que não seja cuidar dos pequenos, as noites sem dormir que acabam deixando a gente sem energia e com tendências depressivas. Só o esgotamento físico e mental de quem cuida de um filho basta para não querermos saber de mais nada ao nosso redor.

Tudo que tenho falado não passa de uma grande escala de importâncias. Quando temos nossos filhos, eles se tornam a "coisa" mais importante de todas as coisas do universo. Pode ser uma febre, pode ser a decisão de colocar na escola, tanto faz. Nada importa mais do que eles. E só fica do nosso lado quem se importa com eles tanto quanto nós.

Um dos casos que mais me marcou foi esse que conto agora: Tenho um amigo (ou tinha, já nem sei mais) que rompeu com a noiva. Eu sabia que ele estava abalado - e eu também estava, pois sabia o quanto ele amava essa menina -, mas ele me contou no dia do aniversário do meu filho. E isso ficou martelando na minha cabeça. Ao mesmo tempo que eu queria conversar com ele sobre isso, também não queria acabar com a vibe boa que só uma festa infantil traz - e eu ainda era a mãe do aniversariante, responsável por toda a organização da festinha.  Eu dei atenção, mas sei que não foi a atenção suficiente. Na escala de 0 a 10, esse era um 10, sem dúvida alguma... mas a festa de aniversário do meu filho também era. E o 10 do filho sempre ganha.

Relacionamentos são trocas, mas existe um desfalque enorme quando um dos lado tem que cuidar de uma criança. E aí a pergunta: por que vou me doar sem receber algo em troca? Tem que existir um sentimento de afeto muito grande para não deixar a amizade morrer quando uma das peças se afasta por necessidades maiores. Sinto uma saudade imensa de trocar ideia sem hora pra voltar, de jogar papo fora no bar da faculdade... mas essa não é a minha realidade hoje - e as pessoas que não vivem como nós têm dificuldade em entender que a rotina exigida é outra.

No fim do episódio, os recém-pais perceberam que, por causa da regra de "8 ou higher", já não sabiam o que estava acontecendo na vida de seus amigos e decidiram que queriam escutar suas histórias, por mais bobas que fossem. Sendo assim, resolveram ir até o bar de sempre com os amigos - e com o bebê - para conversar. Na vida real, isso não é tão fácil assim. Você não tem tempo nem mesmo para você, quem dirá para eles (e levar seu filho no bar enquanto bebe com seus amigos não parece ser algo tão comum assim).

É uma missão complicada se preocupar com os outros quando você está ocupado demais se preocupando com seu filho. E talvez seus amigos não entendam isso. Agora se eles entenderem, valorize-os, porque esse tipo de amizade vale a pena e não é fácil de encontrar.

Photo Credit: DiariVeu - laveupv.com Flickr via Compfight cc


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Escrito por Verônica Ponce

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