Quando uma Criança de 10 anos Morre

menino

Falarei de um assunto que poderá causar grandes polêmicas, mas que não pode ser deixado de lado ou esquecido e que eu espero que a partir de agora todos possam fazer uma reflexão crítica sobre isso. No começo do mês, em São Paulo, um garoto de 10 anos foi baleado e morto em uma troca de tiros com a polícia após um assalto. Nesta hora eu fico pensando: quem poderá ser culpado por isso? Posso culpar este garoto (que relembrando tinha 10 anos de idade), que não poderia ainda decidir onde estar, com quem estar e o que fazer sozinho?

Muitas pessoas neste momento culpam o Estado pelo descaso. Claro que sabemos que nosso sistema educacional não ajuda e que realmente o Estado não cumpre o seu papel, porém quem decide quantos filhos teremos e como cuidaremos é o Estado? Quem tem esta obrigação e dever inicialmente somos nós, porque fomos nós quem decidimos ter um filho, e não uma imposição do Estado.



O maior responsável pela educação somos nós, os pais, a família. Sou professora do ensino fundamental I de alunos com esta mesma idade. Muitos já passaram pela minha vida sem que eu pudesse ter visto a cara do pai e da mãe durante os dois anos que estive com cada turma, pois é o tempo que eu fico sempre com cada um deles. Muitos destes alunos buscam em nós, seus professores, o carinho que eles não têm em seus lares e o amor necessário para que a evolução de suas personalidades aconteça. Esses alunos o tempo todo nos pedem socorro com suas notas ruins, comportamentos hostis e agressivos. Estes alunos só estão dizendo o tempo todo "eu preciso do amor de alguém, preciso que alguém se preocupe, preciso que alguém me ajude a encontrar o caminho certo".

Não culpo nem o pai, ou tampouco a mãe. Os dois são responsáveis e os dois devem ser responsabilizados. Não adianta esperarmos que o Presidente da República, o governador ou o prefeito venham até a nossa casa educar e amar os nossos filhos, quem deve fazer isso somos nós! Nem a pobreza, nem a falta de amor, nem a maternidade solteira, ou tampouco a falta de estrutura educacional nas escolas podem ser responsabilizadas sozinhas pela educação de nossos filhos. A responsabilidade é de todos nós, porém é você enquanto seio familiar que tem a sua maior parcela. 

Quando uma criança de 10 (e até mesmo mais nova) é aliciada pelo crime, é a certeza que eu tenho de que esta criança foi colocada nessa situação pela sua própria família que fechou os seus olhos, preferiu fazer de conta que não estava vendo ou ouvindo seu apelo por socorro. Quando uma criança de 10 anos morre, morre um pouquinho de mim, porém renasce uma esperança mais forte de mudar o mundo, renasce uma ideologia de que este país tem futuro e um futuro melhor sim! A medida em que as pessoas entenderem que todas as coisas ruins que acontecem são da responsabilidade de todos nós.

Quando uma criança de 10 anos morre, eu entendo mais ainda o meu papel enquanto mãe, enquanto professora e enquanto cidadã e a vontade de lutar por um país mais justo, igualitário e melhor para todas as crianças, com mais amor e felicidade para elas só aumenta.

Quando uma criança de 10 anos morre, renasce junto a minha vontade de estar na sala de aula e a certeza de que se uma criança erra, ela erra primeiramente porque é humana e depois porque por trás dela existiu um adulto que se omitiu de seu papel e, antes de qualquer um, o abandonou.

Até a luta!
Regiane Ree | Mães em Luta

Obs.: Esse artigo não tem a intenção de julgar esse caso específico, mas sim debater e refletir sobre a realidade da juventude brasileira.
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Escrito por Regiane Ree

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