Relato de Parto Humanizado - Ana Calvente | Mãe de Primeira

parto com respeito

Meu relato de parto – Parto humanizado

Ao completar 38 semanas comecei a sentir algumas cólicas. Nada demais comparado às que eu costumava a ter antes de começar a tomar anticoncepcionais. Aquelas sim doíam! Essas eram apenas desconfortos. Uma vez ao dia, pelo que eu conseguia perceber.

Ao passar dos dias fui percebendo que as cólicas se repetiam. Sempre um pouco mais intensas que as anteriores. As contrações de treinamento também estavam presentes, mas essas já eram velhas conhecidas, pois começaram no meu sexto mês de gravidez. Comecei a ficar atenta se via algo parecido com o tampão mucoso ao ir ao banheiro. Nada.

Com 39 semanas e 3 dias senti pela primeira vez que a cólica havia me acordado a noite. Também comecei a ter uma sensação estranha de que meu quadril estava se abrindo. Não dá pra explicar isso porque pode ter sido apenas minha cabeça. Quando isso acontecia, eu me concentrava e dizia pro meu corpo: “Se abra! Se abra! Deixe minha bebê passar!”

Examinava a “altura” da minha barriga o tempo inteiro. Quando os bebês encaixam a cabeça na pelve inevitavelmente a barriga fica um pouco mais baixa. A minha parecia estar içada por uma grua de tão alta! Parecia que contração nenhuma a faria descer.

Mesmo assim, com 39 semanas e 4 dias comecei a sentir contrações. Começaram como cólicas que iam e vinham, mais como um incômodo do que como dor, mas noite adentro a história mudou e as contrações já apareciam como “ondas”, que começavam fracas, avisando sua chegada, atingiam o pico de dor e diminuíam. Aconteciam a cada 10 ou 12 minutos durante toda a noite. Tentei descansar o máximo que pude e entre as contrações consegui dormir um pouco, mas as dores me acordavam o tempo inteiro.

Contatei minha doula que me orientou sobre colocar bolsas de água quente no baixo ventre e na lombar. Para algumas mulheres isso ajuda muito, mas para mim não foram muito eficazes. Segurei toda a noite com respirações e tentando relaxar o corpo no momento da dor.

Pela manhã eu tinha uma consulta agendada, o que foi ótimo, pois pude conversar com minha obstetriz sobre os sintomas. Ela me examinou e conversamos bastante. Concluímos que eram apenas pródromos e ela me avisou que essa etapa pode durar dias e que eu não deveria ficar ansiosa e sim seguir com a minha rotina diária.

Foi o que fiz. Levei minha mãe a uma consulta, fizemos almoço e ainda fomos conhecer um clube. As contrações durante o dia eram mais espaçadas, mas ainda intensas. De tempos em tempos eu tinha que parar, me apoiar em uma árvore ou um carro qualquer e gemia e respirava bem fundo. Acho que assustei algumas pessoas no meio do caminho, e, pra falar a verdade, achei isso bem engraçado (rs)!

No final daquele dia o tampão se fez presente. Inconfundível como ele só. Uma “melequinha” com um fio de sangue. “Opa! Preciso descansar. Pode ser que esteja perto”. Não foi mais possível. As 22hrs as contrações ficaram mais fortes. Todos em casa foram dormir, mas eu não conseguia me deitar. Passar pelas contrações deitadas parecia impossível. Era necessário sentar ou andar pela casa.

À meia-noite acordei meu marido. “Não consigo passar por isso sozinha. Preciso de você”. Ele me abraçou. Ligamos para doula juntos. A orientação: chuveiro.


Lembro-me de estar no chuveiro e no outro minuto ver a doula entrando no banheiro. Como tudo foi tão rápido? Nesse momento percebi que já tinha perdido a noção do tempo. O chuveiro ajudou mas eu precisava dormir. Sai da água e me sentei na bola de pilates, colocada frente a uma pilha de almofadas sobre a cama. Apoiei-me sobre elas e lá dormi entre as contrações. Nunca imaginei que alguém poderia dormir entre dores tão fortes, mas eu dormi.

Algum tempo depois eu precisava andar. As dores vinham muito próximas. Quase não tinha tempo de descansar. Apoiava-me na parede de gemia. Respirava e gemia. Nas mais fortes eu pedia massagem. Comprimiam meu quadril com força. Ajudava, mas não o suficiente. Não consegui comer muita coisa.

Alguém avisou que a obstetriz havia chegado. A abracei e chorei. Chorei muito. “Que horas são?”, “Seis da manhã”, “Não quero saber quantos centímetros”.

Ela me examinou e disse que poderíamos esperar mais, mas também não seria um problema se fossemos ao hospital. Eu preferia ir. Precisava mudar de ambiente para acreditar que algo estava avançando. Saímos de casa na hora da chegada da minha diarista. A desavisada ficou assustadíssima com tantos gemidos. “Ela vai ter o bebê em casa?!”

A primeira contração hospitalar veio no meio da recepção. Olhares tortos e curiosos de todos os lados. Uma enfermeira prontamente nos direcionou à sala de atendimento.

Exame de toque. “Ela está com sete centímetros”. “Droga, eu não queria saber...”. Cardiotocografia. Sala de pré parto. Andar pelos corredores acordando meio mundo de gente. Sala de parto. Banheira. “Anestesia pelo amor de Deus!”.

Minha bolsa ainda não havia rompido e a bebê ainda estava alta. Cócoras, cócoras e mais cócoras para tentar fazer a coisa engrenar. Já não entendia como o tempo trabalhava. Passava lento quase se arrastando. Por outro lado o relógio corria! 8AM, 9AM, 10AM.

A racionalidade não estava presente. “Não aguento mais, preciso de anestesia. Estou muito cansada. Não aguento mais”. A equipe esperaria o tempo do meu corpo, mas eu estava exausta. Decidimos romper a bolsa para acelerar as coisas e evitar a anestesia.

Precisava andar para ajudar a bebes a descer. Não tinha forças. Meu marido me abraçou e me levou para andarmos abraçados pela sala. “Vamos dançar” ele dizia. Eu descansava em seu peito esperando que tudo fosse mais rápido.

Banheira novamente. Não tinha mais energia. Tentavam me alimentar, mas eu rejeitava. Dormi na banheira. Meu marido ao meu lado sempre. Em nenhum momento percebi angustia ou medo em sua voz. Estava seguro de que conseguiríamos. De que meu corpo podia parir.

Foi ele quem me tirou da banheira. Ele percebeu que eu relaxava mais do que deveria na água. Naquele momento precisávamos que as contrações estivessem bem presentes para que nossa filha pudesse nascer. Saí da água escorada em seus ombros.

Na sala, haviam forrado o chão com lençóis. No meio do caminho uma contração muito forte. Me acocorei e fiz força. Meu marido me segurava e eu gritava. “Coloque a mão e você sentirá seu cabelo”. Não senti, mas não tinha tempo para pensar nisso. Força. Gritos. Respira, respira.

Só queria olhar para o teto. As luzes do teto da sala eram como estrelas nos iluminando. Quando ouvi meu marido chorando eu sabia que ele a estava vendo sair. Aquilo me deu muita força.

Cabeça fora. Suspenderam-me até o banquinho que estava logo atrás de mim. “Sopre a Malu”, dizia a médica. Gritei como nunca na vida. A senti sair por inteiro.

Quando a colocavam no meu colo eu tremia. “O que eu faço agora?”. “Cria”, disse a pediatra. Não sabia como segurá-la. Meu marido e eu aos prantos. A bebê nos olhava tranquila. A pouca luz do ambiente propiciava seu olhar atento. Pouco choro. Aquele momento tão esperado havia chegado. Lindo, único, cheio de amor. Aproveitamos cada segundo do primeiro dia do resto de nossas vidas.

Relato de parto de Ana Cecília Calvente – Parto Humanizado.

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Escrito por Ana Cecília Calvente

1 comentários:

  1. Relato mais lindo! Nem podia ser diferente. Vi sua beleza de mãe crescer dia a dia. Parabéns!

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