Vivemos em uma sociedade capitalista, onde até para pensar temos que pagar impostos (utilizando todo o eufemismo que é meu por direito). Tive meu primeiro filho aos 19 anos de idade. Não tinha casa, não tinha emprego, tinha acabado de concluir o ensino médio - que concluí em 4 anos pelo fato de ter estudado para ser professora. Foi tudo muito mais difícil para mim, pois não tinha ao meu lado um homem que queria me ver evoluir, prosperar e fazer acontecer. Bem pelo contrário: quanto menos eu trabalhasse, estudasse e visse o mundo girar, melhor era.
Fiquei grávida e acreditei que a paternidade faria deste homem um homem melhor, que cresceria tanto quanto eu cresci a partir do momento que me tornei mãe, mas não foi bem assim e eu não culpo nem a mim e nem a ele por isso, afinal ninguém deve ficar preso a um relacionamento por capricho ou por apego, certo?
Aos 29 anos, batalhando para terminar uma faculdade, fiquei grávida pela segunda vez de uma pessoa que nem sequer meu namorado era, meus pais nunca tinham visto, meu filho tampouco. Alguém que eu não tinha como objetivo nenhum ter ao meu lado e que era totalmente diferente das expectativas que eu tinha. Sabe aquele tipo de envolvimento raso? Que você fica, não vê futuro, mas vai levando sei lá por que? Então foi mais ou menos por aí. Também não me arrependo e não olho para isso como erro, porque disso eu tive frutos. Tive um filho que eu desejei, embora não tenha planejado, porque se você não se previne, você está assumindo as responsabilidades das consequências e filhos jamais devem ser chamados de erros. Agradeço, pois graças a este "envolvimento raso" eu tive mais um filho.
Assumi sozinha todas as dificuldades, o julgamento das pessoas e principalmente o do meu pai (que, como homem, até hoje não aceita o fato de eu ter ficado grávida solteira) e com tudo isso eu resolvi que em uma sociedade como a nossa, que tudo que é para classe operária é mais difícil (a escola, os serviços de saúde precarizados, onde o sistema capitalista não espera que você tenha condições suficiente para dar aos seus filhos escola boa, casa boa e essas coisas todas). Quanto mais filhos continuarmos tendo, melhor para eles; quanto mais precário tudo for, melhor assim, pois continuaremos votando mal e mantendo um sistema viciado, onde o poder está nas mãos de alguns. Seremos sempre aqueles que aceitarão tudo sem reclamar a classe que vai trabalhar em prol da máquina que existe do jeito que é.
Resolvi que seria a melhor mãe que os meus filhos poderiam ter, porém não terei mais outros filhos. Amo os meus, amaria outros claro se fosse necessário, mas não terei mais, porque esta é uma decisão minha. Decidi que faria um procedimento definitivo, a laqueadura, e aí é que uma mulher como eu em uma sociedade hipócrita que defende interesses minoritários trava uma luta de gêneros e ideologias.
A lei de número 9263/96 sancionada em janeiro de 1996 que defende a questão do planejamento familiar que é de direito de TODOS não especifica que você deve ser casado para tomar esta decisão.
Sou solteira e a lei que ao mesmo tempo deveria proteger a todos, fala apenas no planejamento familiar para quem tiver um cônjuge e eu, como citei acima, não tenho. Tive apenas genitores, aos quais não tenho nenhum tipo de relacionamento a não ser o burocrático - e eu, como mulher sem cônjuge, não me enquadro nas leis de esterilização por cirurgia.
Para fazer a mesma, quando o meu bebê nascesse eu precisaria preencher um termo que deveria ser assinado também por um homem, pois segundo o médico não era uma decisão só minha e que eu poderia me arrepender. "E se você conhecer alguém? Como você fará caso esta pessoa queira ter um filho?”. Para eu realizar a cirurgia, eu teria que pagar por fora, mesmo já pagando um plano de saúde. Diga-se de passagem, vivemos em um sistema tão cruel que se você quiser um serviço de saúde razoavelmente bom, você é obrigado a pagar. E eu achei um absurdo ter que pagar e ainda assim só faria caso encontrasse alguém para assinar no fim.
Ainda estou batalhando para conseguir, afinal eu tenho um direito assegurado em uma constituição: que o meu pensamento e direito de expressar é livre e a decisão do que é melhor para mim é minha! E ficar ligeiro (porque estou) já faz parte do jogo, certo? Então sempre estarei na atividade, na luta.
E se eu conhecer alguém depois disso? Serei sincera e direi: "Não desejo mais ter filhos, não posso mais ter, fiz uma cirurgia." E se ainda assim esta pessoa quiser ficar comigo, terei enfim conhecido o amor verdadeiro, uma pessoa liberta de qualquer tipo de preconceito até porque quem nos ama, ama do jeito que somos e como somos. Como conseguirei? Quando descobrir eu conto, porque uma coisa é fato: I will never give up (eu nunca desistirei).
Photo Credit: svetlanaephimenko via Compfight cc
Aos 29 anos, batalhando para terminar uma faculdade, fiquei grávida pela segunda vez de uma pessoa que nem sequer meu namorado era, meus pais nunca tinham visto, meu filho tampouco. Alguém que eu não tinha como objetivo nenhum ter ao meu lado e que era totalmente diferente das expectativas que eu tinha. Sabe aquele tipo de envolvimento raso? Que você fica, não vê futuro, mas vai levando sei lá por que? Então foi mais ou menos por aí. Também não me arrependo e não olho para isso como erro, porque disso eu tive frutos. Tive um filho que eu desejei, embora não tenha planejado, porque se você não se previne, você está assumindo as responsabilidades das consequências e filhos jamais devem ser chamados de erros. Agradeço, pois graças a este "envolvimento raso" eu tive mais um filho.
Assumi sozinha todas as dificuldades, o julgamento das pessoas e principalmente o do meu pai (que, como homem, até hoje não aceita o fato de eu ter ficado grávida solteira) e com tudo isso eu resolvi que em uma sociedade como a nossa, que tudo que é para classe operária é mais difícil (a escola, os serviços de saúde precarizados, onde o sistema capitalista não espera que você tenha condições suficiente para dar aos seus filhos escola boa, casa boa e essas coisas todas). Quanto mais filhos continuarmos tendo, melhor para eles; quanto mais precário tudo for, melhor assim, pois continuaremos votando mal e mantendo um sistema viciado, onde o poder está nas mãos de alguns. Seremos sempre aqueles que aceitarão tudo sem reclamar a classe que vai trabalhar em prol da máquina que existe do jeito que é.
Resolvi que seria a melhor mãe que os meus filhos poderiam ter, porém não terei mais outros filhos. Amo os meus, amaria outros claro se fosse necessário, mas não terei mais, porque esta é uma decisão minha. Decidi que faria um procedimento definitivo, a laqueadura, e aí é que uma mulher como eu em uma sociedade hipócrita que defende interesses minoritários trava uma luta de gêneros e ideologias.
A lei de número 9263/96 sancionada em janeiro de 1996 que defende a questão do planejamento familiar que é de direito de TODOS não especifica que você deve ser casado para tomar esta decisão.
Sou solteira e a lei que ao mesmo tempo deveria proteger a todos, fala apenas no planejamento familiar para quem tiver um cônjuge e eu, como citei acima, não tenho. Tive apenas genitores, aos quais não tenho nenhum tipo de relacionamento a não ser o burocrático - e eu, como mulher sem cônjuge, não me enquadro nas leis de esterilização por cirurgia.
Até a luta!
Regiane Ree
Regiane Ree
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